quarta-feira, 20 de julho de 2011

O abraço


Uma química delicada se produz entre duas pessoas que se sentem atraídas uma pela outra.
O encontro se faz quase sempre pelo olhar. Segue-se a participação da boca, primeiro em sorrisos,
depois em palavras. Aí vai surgindo o desejo de tocar, de abraçar. 
Pesquisadores dizem que precisamos de seis abraços por dia para não nos sentirmos carentes. 
Por que seis? 
Talvez porque um é pouco, dois é bom, três é melhor ainda, quatro então nem se fala ... 
Nossos braços servem para abraçar, enlaçar. 
Só que cada abraço tem que ser sentido, vivido. 
Como diz o terapeuta paulistano José Ângelo Gaiarsa
você não toca no outro como se ele fosse uma cadeira. 
Senão você está coisificando o outro. 
Acontece que o outro é de carne e osso, parecido com você, 
por isso, o gesto não pode ser impensado, mecânico, automatizado. 
As pessoas estão cansadas do gesto maquinal que não reflete nada.
Quando eu toco o outro, que está além das fronteiras do meu próprio corpo,
eu o sinto e sinto a mim mesma simultaneamente. 
Nesse sentido, podemos ficar horas sem fim nos tocando e nos sentindo. 
Mergulhando na sensação, percebendo o outro e me percebendo,
tenho a sensação de estar sendo abraçada. 
A criança registra essa impressão na mente e vai pelo resto da vida tentando reconstituir,
reencontrar essa sensação. Por isso o ser humano tem fome de abraço.
Ele está tentando repetir o prazer que está associado a essa primeira experiência. 
Assim como aprendemos a falar porque alguma pessoas falam conosco 
e vamos falar da forma como elas falaram -, também aprendemos a tocar em grande parte 
dependendo da forma como fomos tocados. O aprendizado do amor começa aí.
As sensações de mamar e amar ficam profundamente interligadas e até inseparáveis em nossa mente. 
Mais tarde, freqüentemente comer se torna uma forma de compensar a falta de amor. 
É por isso que, quando estamos carentes, atacamos a geladeira, bebemos mais cerveja, 
tomamos mais sorvete, comemos mais um chocolate. 
Tanto a fome de alimento com essa fome de contato normalmente se intensificam nos períodos de tensão. 
Entretanto, enquanto a fome de alimento podemos matar sozinos com comida,
cigarro ou álcool, a fome de contato dificilmente pode ser satisfeita sem outra pessoa. 
O que se resolve com gestos que nos aproximam, nos vinculam ao outro. 
Pode-se alisar, abraçar, tocar de forma apressada, impensada, dissociada. 
Ou pode-se tocar sensualizando, erotizando cada movimento. 
Cada gesto traduz um sentimento, uma emoção, que provoca uma reação. 
Se o gesto é indiferente, não manifesta nada, não tem energia nem intenção, 
você congela o outro e se congela. Se ele for macio, terno, doce, você derrete o outro e se derrete.
Se ele for erótico, excitante, estimulante, apaixonado, você incandesce o outro e se incandesce também. 
Muitas vezes, quando se faz amor, carinho e carícia se misturam, se juntam, se fundem e confundem. 
Brincamos com o nosso corpo porque sabemos que fazer amor é " um alisar o outro e o outro alisar o um " .
Nessa troca de carícias, o outro responde ao meu gesto e tende a fazer aquilo que meu gesto insinua.
O que acontece é uma conversa dos dedos sobre a pele. 
O que se busca, quando se faz amor, é essa ampliação da consciência do contato. 
Na medida em que vamos aprendendo a ampliar o contato com outra pessoa,
vamos ampliando e aprofundando nosso contato vivo e prazeroso com tudo o que existe. 
 " Tato é a linguagem inicial da vida. " 

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