Movimentos sociais - resumo
O que é – O conceito de
movimento social se refere à ação coletiva de um grupo organizado
que tem como objetivo alcançar mudanças sociais por meio do embate
político, dentro de uma determinada sociedade e de um contexto
específico. Fazem parte dos movimentos sociais, os movimentos
populares, sindicais e a organizações não governamentais
(ONGs).
Brasil – Os movimentos sociais brasileiros ganharam mais importância a partir da década de 1960, quando surgiram os primeiros movimentos de luta contra a política vigente, ou seja, a população insatisfeita com as transformações ocorridas tanto no campo econômico e social. Mas, antes, na década de 1950, os movimentos nos espaços rural e urbano adquiriram visibilidade.
Os principais movimentos sociais no Brasil – As ações coletivas mais conhecidas no Brasil são o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MSTS) e os movimentos em defesa dos índios, negros e das mulheres.
Brasil – Os movimentos sociais brasileiros ganharam mais importância a partir da década de 1960, quando surgiram os primeiros movimentos de luta contra a política vigente, ou seja, a população insatisfeita com as transformações ocorridas tanto no campo econômico e social. Mas, antes, na década de 1950, os movimentos nos espaços rural e urbano adquiriram visibilidade.
Os principais movimentos sociais no Brasil – As ações coletivas mais conhecidas no Brasil são o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MSTS) e os movimentos em defesa dos índios, negros e das mulheres.
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra
O Movimento dos Trabalhadores
Rurais Sem Terra, também conhecido pela sigla MST, é um
movimento social brasileiro de inspiração marxista
e do cristianismo progressista (teologia
da libertação), cujo objetivo é a realização da reforma
agrária no Brasil. O MST teve origem na década
de 1980. Defendem eles que a expansão da fronteira
agrícola, os megaprojetos — dos quais as barragens
são o exemplo típico — e a mecanização
da agricultura
contribuíram para eliminar as pequenas e médias unidades de
produção agrícola e concentrar a propriedade da terra.
Paralelamente, o modelo de reforma
agrária adotado pelo regime
militarterras
devolutas em regiões remotas, tais como as áreas ao longo da
rodovia Transamazônica,
com objetivo de "exportar excedentes populacionais" e
favorecer a integração do território, considerada estratégica.
Esse modelo de colonização revelou-se, no entender do movimento,
inadequado e eventualmente catastrófico para centenas de famílias,
que acabaram abandonadas, isoladas em um ambiente inóspito,
condenadas a cultivar terras que se revelaram impróprias ao uso
agrícola. priorizava a "colonização" de
Nessa época, intensificou-se o
êxodo rural
— abandono do campo por seus habitantes —, com a migração de
mais de 30 milhões de camponeses para as cidades, atraídos pelo
desenvolvimento urbano e industrial,
durante o chamado "milagre
brasileiro". Grande parte deles ficou desempregada ou
subempregada, sobretudo no início anos
1980, quando a economia brasileira entrou em crise. Alguns
tentaram resistir na cidade e outros se mobilizaram para voltar à
terra. Desta tensão, movimentos locais e regionais se desenvolveram
na luta pela terra.
Em 1984, apoiados
pela Comissão
Pastoral da Terra, representantes dos movimentos sociais,
sindicatos de trabalhadores rurais e outras organizações
reuniram-se em Cascavel,
Paraná, no 1º
Encontro Nacional dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, para fundar o
MST.[1][2]
Apesar de os movimentos organizados
pela reforma agrária no Brasil serem relativamente recentes,
remontando apenas às ligas
camponesas — associações de agricultores que existiam durante
as décadas de 1950 e
1960portugueses
entraram no Brasil, quando a terra foi dividida em sesmarias
por favor real, de acordo com o direito feudal
português, o que
excluiu em princípio grande parte da população do acesso direto à
terra. Contrariamente a esse modelo concentrador da propriedade
fundiária, o MST declara buscar a redistribuição das terras
improdutivas. — o MST
entende-se como herdeiro ideológico de todos os movimentos de base
social camponesa ocorridos desde que os
Movimento
indígena no Brasil
Há
quase 500 anos os índios vêm lutando pelo direito de viver com
dignidade e liberdade em sua própria casa. No início, escravizados;
depois, expulsos para longe de suas terras; após, perseguidos e
massacrados, acuados em áreas cada vez menores e menos viáveis;
sempre desrespeitados como pessoas, tendo violados seus direitos à
saúde, à educação, à subsistência, à preservação cultural e
física.
As
estratégias de exploração das populações indígenas pela
sociedade dominante passaram por vários momentos, conforme as
peculiaridades de cada contexto histórico. O massacre explícito foi
substituído pela política de tutela, passando da eliminação
física para a eliminação virtual como cidadãos brasileiros
pertencentes a diferentes povos ou comunidades.
"A
gente vive massacrado dentro do que é da gente mesmo. Temos que ter
muito cuidado. Senão eles acabam de matar nós. A gente não dá
lucro. Para dar lucro para o município, a gente teria que acabar com
o mato. E índio gosta é de mato. Quando o índio entra no mato logo
fica alegre."
Esse
processo de violência e exploração veio sempre acompanhado por
movimentos de resistência e de enfrentamento, seja de forma
organizada regional ou globalmente, seja de forma individual ou
pontual.
Superada,
formalmente, a política de tutela das populações indígenas, pelo
Estado, estas vêm passando por um momento histórico de organização
para garantir os direitos firmados na Constituição Federal de 1988.
"A
tutela coloca o índio numa situação de sola de sapato. Não pode
olhar para cima, senão consegue enxergar as coisas".
O
caput do artigo 231 da Constituição Federal afirma o reconhecimento
da organização social dos índios, seus costumes, línguas, crenças
e tradições, e os direitos originários sobre as terras que
tradicionalmente ocupam, atribuindo à União o dever de demarcá-las.
O artigo 232 afirma os índios, suas comunidades e organizações
como partes legítimas para ingressar em juízo em defesa de seus
direitos e interesses.
O
reconhecimento legal da cidadania dos índios abriu espaço para a
ampliação do movimento indígena em termos de organizações
efetivamente atuantes e conseqüentes, na luta pela garantia da terra
e dos demais direitos das populações indígenas no país.
Atualmente,
o principal movimento indígena organizado em nível nacional é o
Conselho de Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do
Brasil (CAPOIB), criado em 1992, em Brasília, no contexto da
discussão da proposta de um novo Estatuto do Índio, por 300
lideranças nacionais.
O
CAPOIB organiza-se através de uma Assembléia Geral e de uma
coordenação executiva composta por cinco lideranças, indicadas
pelas comunidades das cinco regiões do país, que permanecem em
Brasília.
O
representante da região Sul, desde 1992 até o final de 1996, foi o
kaingang da área indígena da Guarita, Jovino Sales Kaingang.
Além
das ações de pressão e articulação nacional, o CAPOIB atua na
busca de apoio internacional para a causa da defesa dos direitos dos
povos indígenas do Brasil.
Uma
das principais atividades atuais do CAPOIB é o acompanhamento da
tramitação do projeto do Estatuto do Índio no Congresso Nacional.
Além disso, cabe à entidade articular as mobilizações e ações
contra o decreto 1775/96, anteriormente mencionado, e acompanhar as
lutas regionais pelas demarcações e desocupações das áreas
indígenas no país.
Em
março uma mobilização indígena foi realizada em Brasília, sob
coordenação do CAPOIB, reunindo mais de 300 lideranças indígenas
de todo o país, com a participação de 150 lideranças do Movimento
Sem Terra (MST).
Movimento Negro
Movimento Negro
(ou MN) é o nome genérico dado ao conjunto dos diversos
movimentos
sociais afro-brasileiros,
particularmente aqueles surgidos a partir da redemocratização
pós-Segunda
Guerra Mundial, no Rio
de Janeiro e São
Paulo.
Histórico
Movimentos sociais expressivos envolvendo grupos
negros perpassam
toda a História
do Brasil. Contudo, até a Abolição
da Escravatura em 1888,
estes movimentos eram quase sempre clandestinos e de caráter
radical, posto que seu principal objetivo era a libertação dos
negros cativos. Visto que os escravos
eram tratados como propriedade
privada, fugas e insurreições, além de causarem prejuízos
econômicos, ameaçavam a ordem vigente e tornavam-se objeto de
violencia e repressão não somente por parte da classe senhorial,
mas tambem do próprio Estado e seus agentes.
[editar] Resistência negra Pré-Abolição
[editar] Quilombos, quilombolas, quilombagem
A principal forma de exteriorização dos
movimentos negros rebeldes contra a escravização, nos cerca de
quatro séculos em que a mesma perdurou no país (1549?-1888), foi a
quilombagem. Na definição de Moura (1989: p. 22):
“
|
Entendemos
por quilombagem o movimento de rebeldia permanente organizado e
dirigido pelos próprios escravos que se verificou durante o
escravismo brasileiro em todo o território nacional. Movimento de
mudança social provocado, ele foi uma força de desgaste
significativa ao sistema escravista, solapou as suas bases em
diversos níveis – econômico, social e militar – e influiu
poderosamente para que esse tipo de trabalho entrasse em crise e
fosse substituído pelo trabalho livre.
|
”
|
Embora como assinala
Moura, a quilombagem tenha por centro organizacional o quilombo,
para onde iam os escravos fugidos (e onde buscavam refúgio toda
sorte de excluídos e marginalizados da sociedade da época), ela
englobava "outras formas de protesto individuais ou
coletivas",[1]1835,
em Salvador)
e o bandoleirismo, forma de guerrilha
na qual grupos de escravos fugidos se organizavam para atacar
povoados e viajantes nas estradas.
como as insurreições (cujo marco é a de
Na acepção de Moura,[2]
como movimento emancipacionista a quilombagem "antecede em
muito, o movimento liberal
abolicionista"
(romantizado em obras de ficção como "Sinhá
Moça", por exemplo) e que, enquanto proposta política,
somente começou a difundir-se após 1880,
quando o escravismo já entrara em crise. Contudo, pela ausência de
mediadores entre os escravos rebeldes e a classe senhorial, a
problemática da quilombagem só podia ser solucionada através da
violência e não do diálogo. Neste aspecto, e embora tenham
existido exceções (a "República
de Palmares" durou quase um século), a maioria dos
movimentos quilombolas não dispunha de meios para resistir longo
tempo ao aparelho repressor do Estado.
[editar]
Da Inconfidência ao
Isabelismo
Enquanto,que na Inconfidência
Mineira, movimento separatista sem base popular, os negros
estiveram praticamente ausentes, foi oposta a situação na assim
chamada "Inconfidência Baiana" ou Revolta dos Alfaiates,
de 1798. Os objetivos
dos rebelados baianos eram, conforme indica Moura,[3]
"muito mais radicais, e a proposta de libertação dos escravos
estava no primeiro plano das suas cogitações". Entre seus
dirigentes e participantes, contavam-se "negros forros, negros
escravos, pardos escravos, pardos forros, artesãos, alfaiates, enfim
componentes dos estratos mais oprimidos, e/ou discriminados na
sociedade colonial da Bahia da época".[3]
Após a Abolição da Escravatura, certa parcela dos grupos negros
engajou-se na defesa do isabelismo, espécie de culto à
Princesa
Isabel que era por eles intitulada "Redentora", como se
a abolição houvesse sido um "ato de bondade pessoal" da
regente.[4]
Um dos mais fervorosos adeptos desse pensamento foi José
do Patrocínio, que procurou mobilizar ex-escravos para a defesa
da monarquia,
ameaçada pelo crescimento dos grupos que pretendiam implantar a
república no
Brasil. Este movimento culminou na constituição da Guarda Negra,
espécie de tropa de choque composta por "capoeiras e
marginais",[4]
cuja principal finalidade era dissolver comícios republicanos pelo
uso da força. Após a Proclamação
da República, José do Patrocínio dissolveu a Guarda Negra,
deixou de defender o Império
e tornou-se republicano.
Da revolta à resistência pacífica
Com o fim do Império, os grupos negros se
incorporaram a diversos movimentos populares, particularmente de base
messiânica,
como o de Canudos
e o do beato Lourenço. Tiveram ainda participação destacada na
"Revolta da Chibata" em 1910,
capitaneada pelo marinheiro João
Cândido. Através da revolta da Armada, Cândido conseguiu fazer
com que a Marinha
de Guerra do Brasil deixasse de aplicar a pena de açoite aos
marujos (negros, em sua maioria). Apesar da vitória e de uma
promessa de anistia,
a liderança do movimento havia sido praticamente exterminada um ano
depois, e o próprio João Cândido, embora tenha sobrevivido ao
expurgo, acabou seus dias esquecido e na miséria.
Monumento a João Cândido no Rio de Janeiro.
A
"Revolta
da Chibata" foi praticamente o último ato de rebelião
negra organizada – e armada – ocorrido no Brasil. Daí para
frente, os grupos negros passaram a buscar formas alternativas de
resistência, "especialmente em grupos de lazer, culturais ou
esportivos".[5]
Esta forma de resistência pacífica já existia durante o período
de escravidão, embora não fosse, conforme descrito acima, o único
instrumento de contestação existente. Nas palavras de Moura:[6]
“
|
(…)
durante a escravidão o negro transformou não apenas a sua
religião, mas todos os padrões das suas culturas em uma cultura
de resistência social. Essa cultura de resistência, que parece
se amalgamar no seio da cultura dominante, no entanto desempenhou
durante a escravidão (como desempenha até hoje) um papel de
resistência social que muitas vezes escapa aos seus próprios
agentes, uma função de resguardo contra a cultura dos
opressores.
|
”
|
Hanchard
[7]
também destaca esta forma de manifestação cultural, embora lhe
atribua menor importância como fator de contestação:
“
|
Historicamente,
as práticas culturais (religião, música, dança e outras
formas) têm sido um dos poucos veículos de expressão
relativamente acessíveis aos negros (não apenas ativistas ou
adeptos do movimento negro) na sociedade brasileira.
|
”
|
Como tais práticas não
ocorrem num vácuo social,[8]
alerta para o fato delas não mais conservarem sua pureza original,
pois "sofrem a influência aculturativa (isto é,
branqueadora) do aparelho ideológico dominante. É uma luta
ideológico-cultural que se trava em todos os níveis, ainda diante
dos nossos olhos". Ele exemplifica citando as escolas
de samba do Rio de Janeiro, que, de manifestações populares
espontâneas nas primeiras décadas do século
XX, converteram-se num negócio altamente lucrativo para seus
dirigentes, e contando com a proteção oficial do Estado.
[editar] O Movimento Negro no século XX
[editar] Gênese: 1915-1945
Tendo como principais
centros de mobilização as cidades de São Paulo e Rio de Janeiro,
os movimentos sociais afro-brasileiros começam a trilhar novos
caminhos a partir de meados dos anos 1910, numa tentativa de lutar
pela cidadania
recém-adquirida e evoluir para organizações de âmbito nacional. A
primeira grande manifestação neste sentido é o surgimento da
imprensa negra paulista, cujo primeiro jornal, O Menelick,
começa a circular em 1915.
Seguem-lhe A Rua (1916),
O Alfinete (1918),
A Liberdade (1919),
A Sentinela (1920),
O Getulino e o Clarim d' Alvorada (1924).
Esta onda perdura até 1963,
quando foi fechado o Correio d'Ébano. Estes jornais possuíam
como característica principal, o fato de não se envolverem na
cobertura dos grandes acontecimentos nacionais (os quais,
cautelosamente, evitavam). Conforme assinala Moura,[9]
tratava-se de "uma imprensa altamente setorizada nas suas
informações e dirigida a um público específico".
É também graças a esse caldo de cultura
ideológico
propiciado pela imprensa negra paulistana, que se desenvolve nos anos
1930 um dos mais interessantes movimentos afro-brasileiros de
caráter nacional, a Frente
Negra Brasileira. Fundada em 16
de Setembro de 1931,
graças a uma forte organização centralizada na figura de um
"Grande Conselho" de 20 membros, presidida por um "Chefe"
(o que lhe valeu a acusação de movimento fascista),
e contando com milhares de associados e simpatizantes, a FNB teve uma
atuação destacada na luta contra a discriminação racial, tendo
sido, por exemplo, responsável pela inclusão de negros na Força
Pública de São Paulo. Depois dos êxitos obtidos, a FNB
resolveu constituir-se como partido político, e nesse sentido, deu
entrada na Justiça
Eleitoral em 1936.
Todavia, a vida da FNB enquanto partido foi curta. Em 1937,
com a decretação do Estado
Novo por Getúlio
Vargas, todos os partidos políticos – inclusive a Frente Negra
– foram declarados ilegais e dissolvidos. A partir daí e
praticamente até a Redemocratização, em 1945,
os movimentos sociais negros tiveram de recuar para suas formas
tradicionais de resistência cultural. A única possível exceção
neste período (mas que se insere no contexto de resistência
cultural), deve-se à ação de Abdias
do Nascimento, que em 1944
no Rio de Janeiro, fundou o Teatro Experimental do Negronegritude
brasileira" ([10]
e combater a discriminação racial. Conforme expressou o próprio
Nascimento:[11]
(TEN). Nascimento foi o responsável por expressiva produção
teatral onde buscava dinamizar "a consciência da
“
|
Fundando o
Teatro Experimental do Negro (TEN) em 1944, pretendi organizar um
tipo de ação que a um tempo tivesse significação cultural,
valor artístico e função social. De início havia a necessidade
urgente do resgate da cultura negra e seus valores, violentados,
negados, oprimidos e desfigurados. Depois de liquidada legalmente
a escravidão, a herança cultural é que ofereceria a contraprova
do racismo, negador da identidade espiritual da raça negra, de
sua cultura de milênios. O próprio negro havia perdido a noção
de seu passado.
|
”
|
Nascimento
também editou um jornal, denominado "Quilombo", no qual "o
pensamento do grupo e a proposta do TEN se apresentavam à opinião
pública".[10]
[editar] Movimento Negro no Rio Grande do Sul
Em 1907,
na cidade de Pelotas,
no Rio
Grande do Sul, um grupo de intelectuais negros se une para fundar
o jornal A Alvorada. Fundado 19 anos depois da abolição
da escravatura no Brasil, A Alvorada, pretendeu desde seu
primeiro número ser uma tribuna de defesa dos operários e dos
negros de Pelotas. Segundo Santos (2003), "A Alvorada,
provavelmente, seja o periódico de maior longevidade desta fase
denominada de imprensa negra".[12]
No início do
século 20,
Pelotas, era uma cidade em pleno processo de industrialização e que
tinha nos descendentes dos escravos sua principal fonte de
mão-de-obra. Entre os redatores do A Alvorada um dos que mais
se destacaram foi Rodolpho Xavier.[12]
Também ocorreu neste estado o Primeiro Congresso
Nacional do negro, realizado na cidade de Porto Alegre no ano de
1958. Por ocasião desse acontecimento, a capital gaúcha recebeu
delegações dos estados do Paraná, Minas Gerais, Rio de Janeiro,
São Paulo e Distrito Federal, contando com a presença de
estudiosos, pesquisadores, intelectuais brancos e negros e a
comunidade.
[editar] Rearticulação: 1945-1975
A partir da década de 1950, os movimentos sociais negros iniciam um
lento ciclo de rearticulação, cujo marco é a fundação em São
Paulo, em Dezembro de 1954,
da Associação Cultural do Negro (ACN). Surgida como um
movimento de reivindicação ideológica, a ACN não se descuidou da
assistência aos membros, montando departamentos de Cultura, Esporte,
Estudantil, Feminino e até mesmo uma Comissão de Recreação. Após
um período de expansão, entrou em decadência e passou algum tempo
inativa. Ressurgiu em 13
de Maio de 1977,
"com objetivos mais assistenciais e filantrópicos",[13]
que incluíram a criação de uma escola e cursos de alfabetização
e madureza
gratuitos. Todavia, a ACN havia perdido, segundo Moura, "o seu
ethos inicial" [14]
e teve de encerrar suas atividades pouco depois.
Pouco antes desse momento, em 1975,
é fundado no Rio de Janeiro o Instituto de Pesquisa e Cultura
Negra (IPCN), organização de relevância no quadro do movimento
social negro e cuja manutenção devia-se à contribuição de
centenas de sócios. Uma das poucas entidades do gênero a ter sede
própria, passou a enfrentar problemas financeiros no fim dos anos
1980, tendo de fechar as portas subseqüentemente.
[editar] Ressurgimento: 1975-1985
A
partir dos anos 1960, a ditadura
militar brasileira inviabilizou todas as manifestações de cunho
racial. Os militares transformaram o mito da "democracia
racial" em peça-chave da sua propaganda
oficial, e tacharam os militantes (e mesmo artistas) que insistiam em
levantar o tema da discriminação como "impatrióticos",
"racistas" e "imitadores baratos" dos ativistas
estadunidenses
que lutavam pelos direitos
civis. Nas palavras de Hanchard:[7]
“
|
Durante as
décadas de 1970 e 1980, os afro-brasileiros que impregnaram suas
atividades expressivas de um protesto e uma condenação
explícitos da situação dos negros na sociedade brasileira foram
freqüentemente censurados, em termos formais ou informais, por
elites que viam tais acusações como uma afronta ao caráter
nacional.
|
”
|
Todavia, como ainda
assinala Hanchard,[15]
não houve nenhum movimento social afro-brasileiro comparável ao
movimento pelos direitos civis nos Estados Unidos dos anos 1960:
“
|
Embora tenha
havido, durante esses anos, grandes e pequenas tentativas de
agregar um conjunto diferente de pessoas num movimento de cunho
racial em prol da mudança social, não houve, na sociedade civil
brasileira, nenhum movimento nacional de oposição às
desigualdades e à subordinação raciais.
|
”
|
O movimento negro, enquanto proposta política, só
ressurgiria realmente em 7
de Julho de 1978,
quando um ato público organizado em São Paulo contra a
discriminação sofrida por quatro jovens negros no Clube
de Regatas Tietê, deu origem ao Movimento Negro Unificado
Contra a Discriminação Racial (MNU). A data, posteriormente,
ficaria conhecida como o Dia Nacional de Luta Contra o Racismo.
A constituição do MNU como foro privilegiado de
debates sobre a discriminação racial refletiu-se na atitude do
Estado em relação ao tema, culminando com a criação em 1984
do primeiro órgão público voltado para o apoio dos movimentos
sociais afro-brasileiros: o Conselho de Participação e
Desenvolvimento da Comunidade Negra, no governo Franco
Montoro. Foi ainda de Montoro a iniciativa de indicar um
representante dos negros para a chamada Comissão Arinos, que
criminalizou a discriminação racial na Constituição
brasileira de 1988. A tipificação do racismo como crime foi
estabelecida pela Lei Caó, de autoria do deputado Carlos
Alberto de Oliveira, promulgada em 1989.
No Rio de Janeiro, entretanto, o ator, diretor e
dramaturgo maranhense Ubirajara
Fidalgo levava a militância negra aos palcos, através de uma
série de montagens teatrais de temática afro-brasileira com o seu
Teatro Profissional do Negro, T.E.P.R.O.N, onde abordava,
abertamente, o racismo e o preconceito racial trazendo a tona, pela
primeira vez, debates com o público sobre a questão racial
brasileira.
[editar] Militância: 1988-2000
Os anos pós-Constituição
de 1988 registraram avanços nas lutas institucionais dos movimentos
afro-brasileiros contra o racismo e mesmo numa maior aceitação por
parte da sociedade, da discussão desta temática. Conforme indica
Sant'ana:[16]
“
|
Parece
realmente que o balanço do Movimento – tal como é
contabilizado pelos militantes – é o de que a campanha das
últimas duas décadas redundou na conquista da legitimidade de se
colocar em pauta a questão do negro – sem excessivo risco de
serem taxados de "divisionistas" ou de racistas ao
contrário, ou ainda de "equivocados".
|
”
|
Embora esta nova atitude tenha significado uma
maior participação da militância negra na política brasileira,
nem sempre os partidos de esquerda, como se poderia imaginar, foram
os responsáveis pelos avanços mais notáveis na luta
antidiscriminação. Na verdade, impregnada de uma ideologia
eurocêntrica
reducionista,
que tinha como parâmetro um determinismo
economicista, a esquerda brasileira historicamente minimizou a
questão das relações sociais, inserindo-as no âmbito do conflito
Capital × Trabalho. O Partido
dos Trabalhadores, por exemplo, apenas em 1995
criou um espaço para a discussão da luta racial, a Secretaria
Nacional de Combate ao Racismo do PT.
A questão racial também entrou para a pauta de
discussão das centrais sindicais a partir da década de 1990. O V
Congresso Nacional da Central
Única dos Trabalhadores (CUT), reconheceu a importância da
temática racial para a organização dos trabalhadores. A Central
Geral dos TrabalhadoresSeminário Nacional de Sindicalistas Anti-Racistas em
1990, no Rio de
Janeiro, o qual resultou numa Comissão Nacional Contra a
Discriminação Racial, e a Força
Sindical (FS) reestruturou a sua Secretaria Nacional de
Desenvolvimento da Igualdade Racial. As centrais citadas
uniram-se ainda para a constituição do Instituto Sindical
Interamericano Pela Igualdade Social (INSPIR), que incluiu ainda
as organizações internacionais AFL-CIO
e ORIT. (CGT), foi responsável pela organização
de um
Hanchard [17]
reconhece tais avanços, porém faz um julgamento menos favorável de
seu significado prático:
“
|
As condições
de contestação da ordem dominante também sofreram mudanças
significativas. O movimento negro pôde passar de uma atividade
política indireta e amiúde clandestina para uma contestação e
uma condenação francas dos legados de violência racial,
discriminação e subjugação generalizada dos negros em todos os
níveis da sociedade brasileira. Embora a filiação a partidos
políticos tenha aumentado nos últimos dez anos, com a eleição
de negros para cargos municipais e estatais, o número de negros
no Congresso Nacional não se alterou significativamente desde o
fim da ditadura militar.
|
”
|
De fato, na legislatura
federal do período 1999-2003, dos 513 deputados,
segundo o deputado Saulo Pedrosa (PSDB-BA), apenas 11 se declaravam
afro-brasileiros e concordaram em participar de uma Frente
Parlamentar Negra, de caráter informal.
Sant'ana,[18]
embora também reconheça a importância dos movimentos sociais na
discussão da temática do preconceito racial, aponta um paradoxo que
permeia a militância: seu afastamento dos grupos de excluídos que
teoricamente representaria. Conforme assinala:
“
|
Ao
tornarem-se negros e militantes (com a ajuda de uma construção
de memória) os membros do movimento em questão parecem ter
afastado-se dos "pretos", "mulatos", "escuros"
– distanciamento, aliás, reconhecido. Este é um dilema de
difícil encaminhamento. Sem dúvida era (e é) necessário
contrapor-se à imagem preconceituosa e aviltante atribuída aos
não-brancos. Nesse processo, porém, constituiu-se e destacou-se
um setor dificilmente associável àquela imagem, mas também já
muito distanciado do contingente ao qual pretendem colocar-se como
representantes.
|
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