Confederação do Equador
Como vimos, o imperador tinha poderes de intervenção em todas as esferas do Estado. A conduta centralizadora e autoritária de D. Pedro I causou o imediato repúdio dos políticos de pensamento liberal. Estes apontavam a ameaça absolutista presente em medidas como a dissolução da Assembleia Constituinte, a expulsão de deputados, a censura à imprensa, a imposição da Constituição de 1824 e a instituição do poder Moderador, considerado um instrumento de tirania.
A reação mais enérgica explodiu no nordeste, em julho de 1824, e foi liderada pela província de
Pernambuco, dando origem à Confederação do Equador.
Antecedentes da revolta
Naquela época, havia vários motivos para descontentamento entre diferentes grupos sociais no nordeste. Vejamos alguns:
* Os membros da elite açucareira estavam preocupados com a contínua queda das exportações de açúcar;
*Por sua vez, pequenos comerciantes, militares de baixa patente, mestiços, negros livres e escravos viviam com graves dificuldades econômicas ou na miséria.
Essas circunstâncias fizeram com que grupos tão distintos se unissem momentaneamente em torno de ideias contrárias à monarquia e à centralização do poder .
Teses da oposição liberal
Foi o caso das ideias defendidas por líderes liberais, como Cipriano Barata e frei Caneca, que propunham a instalação de um regime republicano e federalista, isto é, com poder descentralizado, o que significava autonomia para as províncias.
Cipriano Barata (1762-1838), político e jornalista baiano, publicava o jornal liberal recifense Sentinela da Liberdade. Por sua participação em diversas revoltas - Conjuração Baiana (1798), Revolução Pernambucana (1817), Independência do Brasil (1822), e Confederação Pernambucana (1824) -, é conhecido como " o homem de todas as revoluções". Considerado um liberal radical (era defensor também da abolição da escravatura) e crítico mordaz do governo imperial, foi detido por ordem do imperador em novembro de 1823. Mantido preso durante vários anos, não pôde participar da revolta que ajudou, indiretamente, a deflagrar.
Joaquim do Amor Divino Rabelo, mais conhecido como frei Caneca (1779-1825), foi um dos mais expressivos representantes da oposição liberal nesse período. O apelido frei Caneca era uma alusão à sua vida de menino, como vendedor de canecas pelas ruas da cidade. Em seu jornal, Typhis Pernambucano, defendia que o Brasil tinha todas as condições para instituir uma verdadeira federação: a grandeza do território e a diversidade da população e das riquezas econômicas presentes no país.
Além de defender o federalismo, frei Caneca era contrário ao mandato vitalício dos senadores e condenava a existência do poder Moderador, que lhe parecia a "chave-mestre da opressão". Opunha-se ao direito do imperador de outorgar à Constituição do país, roubando ao povo o direito de expressar sua vontade por meio de seus representantes na Assembleia Constituinte.
Deflagração da revolta
A revolta eclodiu quando D. Pedro I nomeou um novo presidente para a província de Pernambuco, contrariando o desejo das forças políticas locais.
Liderados por Manuel Pais de Andrade (antigo presidente da província), os revoltosos proclamaram, então a formação da Confederação do Equador, um Estado independente que reuniria as províncias do nordeste sob o regime republicano e federalista, isto é, respeitando a autonomia de cada província.
De Pernambuco, a revolta pretendia expandir-se pelas províncias do nordeste, como }Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Alagoas e, provavelmente Piauí e Sergipe
Divisão do movimento
A diversidade de interesses dos grupos reunidos no movimento logo mostrou-se problemática: os lideres mais democráticos da Confederação do Equador defendiam a extinção do tráfico negreiro e a igualdade social, propostas que não expressavam os desejos das elites locais.
Assim, assustados com a possibilidade de uma revolta popular, os grandes proprietários de terras decidiram afastar-se do movimento.
Repressão imperial
Abandonada pelas elites, a Confederação enfraqueceu-se e não conseguiu resistir à repressão organizada pelo governo imperial.
Com dinheiro emprestado de banqueiros britânicos, D. Pedro I contratou, para conter a revolta, uma esquadra comandada por lorde Cochrane, o mesmo mercenário escocês contratado logo após a proclamação da independência do Brasil para destruir a resistência interna. Além disso, enviou ao nordeste uma força terrestre comandada pelo brigadeiro Francisco de lIma e Silva
Atacados por terra e por mar, os revoltosos da Confederação do Equador foram derrotados. Diversos líderes do movimentos foram presos e condenados à morte, com frei Caneca, Manuel Pais de Andrade e outros conseguiram fugir.
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